sexta-feira, 11 de março de 2022

Um olhar para o futuro desde o passado

Como alguns saberão, outros nem tanto, em 2011 e 2012 realizei uma viagem que me levou a dar a volta ao mundo e que está espelhada ao longo do início deste blogue. O meu mundo conhecido e o desconhecido. O mundo exterior, da física e da matéria e o interior, aquele da metafísica e da espiritualidade. 

Foram muitos os sentimentos que senti e as necessidades que vi surgirem. Sentimento de tristeza por ir partir e não ver os meus familiares, amigos e pessoas que me são muito queridas por algum tempo. Felicidade por partir e realizar um sonho que há tanto me acordava em noites de insónias. Incerteza pelo que iria encontrar e porque aventuras me esperavam, até se iria conseguir completar o que me propunha fazer: viajar à volta do mundo. Curiosamente o medo estava presente mas era algo que me dava algum conforto pois eu sentia que me deixava alerta. Enfim, com os sentimentos percebi a necessidade de ter um meio de comunicar para casa de forma mais regular e também de acalmar (sim, não imaginam como estava a minha mãe com o facto de eu ir embora um ano e picos pelo mundo fora) quem ficava. Em 2011 as telecomunicações não estavam ainda tão desenvolvidas como hoje e o mundo dos smartphones estava muito no começo. Talvez o exemplo melhor fosse o velhinho blackberry que é um remoto parente dos mais recentes iphones ou outros. Levei comigo um nokia 3310, resistente e compacto para o que podia ser uma viagem com momentos mais duros e menos confortáveis. Tendo tudo isto em mente pareceu-me que o blogue, na época, sem intagram ou um facebook ainda verde, seria o melhor formato. Criei o Trechos do Mundo, nesta plataforma. Trechos pois era isso mesmo que pretendia mostrar ou partilhar, o mundo através dos trechos que me iam aparecendo e que eu ia presenciando, vivendo.

Quero partilhar aqui a lista de países que pensei visitar e que coloquei no blogue

Então a lista de países pensada é:

  • França
  • Croácia
  • Bósnia
  • Sérvia
  • Bulgária
  • Turquia
  • Irão
  • Emirados Árabes Unidos
  • Omã
  • India
  • Nepal
  • Tibete
  • China
  • Vietnam
  • Camboja
  • Laos
  • Tailândia
  • Malásia
  • Indonésia
  • Nova Zelândia
  • Chile
  • Argentina
  • Paraguai
  • Bolívia
  • Peru
  • Brasil (Amazónia)

Hoje olho para esta lista e vejo ambição mas também um pouco de irrealidade. Tinha pensado numa viagem de um ano e se fosse viajar ao meu ritmo, muito devagarinho portanto, jamais num ano completaria esta viagem. Por outro lado vejo países que sempre me chamaram atenção e que ainda não visitei. Um dia talvez. Mas lá irei com calma. Estou a escrever este texto porque, tal como esta lista, a vida tem-me levado por caminhos que às vezes não são os esperados ou os pretendidos mas sim os que nos são apresentados. Não tenho a Colômbia na lista e no entanto acabou por ser o último país que visitei antes de regressar à Europa e depois a casa. E que tempo incrível lá passei e que saudades tenho da Colômbia.  Portanto às vezes há que aceitar as surpresas ou o rumo e fluir com ele. Talvez isto seja uma perspetiva bonita e até exclusiva de quem viaja com tempo, de quem vive com tempo. 

Chego onde queria. Vivemos num tempo estranho. Não pelo Covid, mas porque temos tempo para refletir e para mudar comportamentos. No entanto não o fazemos. Passados 11 anos desde a minha viagem, continuo a ver as pessoas a viajar apenas e só as suas duas semanas porque têm toda uma vida preenchida com o trabalho, com o cuidar de outros e, felizmente, algumas vezes com o cuidar de si. Talvez seja um sonhador e até um individuo que viva em utopias, mas anseio pelo dia em que mais pessoas possam fazer listas de países e lançar-se pelo mundo fora de encontro a essas aventuras e encontros que só o mundo sabe proporcionar. Talvez a viagem seja lançar-se na construção da casa que sempre quis fazer com as mãos, ou aprender a tocar bateria. Depois desta pandemia passar ainda não voltei a viajar fora da Europa e apenas os relatos que vou recebendo de alguns amigos que o fizeram me deixam sedento de ir lá a esses orientes e ocidentes distantes revisitar amigos, conhecer novas amizades e explorar-me em geografias e momentos à espera de ser revelados. Até lá fico, por onde estou e a seguir este novo rumo que a vida, com todo este tempo que generosamente, me deu. É também uma viagem construir lar. Solidificar amizades e relações. Sentir o ser dentro deste coração que bate em mim e a invasão de felicidade que sinto nestes dias e que aqui partilho convosco.

Tantos andarilhos tem a história e tantos tão desconhecidos. Tantos iluminados tem a história e tantos tão desconhecidos. A viagem mais para dentro é sem dúvida a viagem mais para fora, leva-nos aos limites do nosso universo. Atravessa as ruas da amargura e da felicidade. Por vezes retém-se no largo do êxtase; ou então perde-se nos becos da tristeza. Tanta gente, tanto julgamento. Tanto pensar e sentir. Tanto... Mas onde está o silêncio que nos deixa contemplar e parar. Que nos deixa viver e andarilhar

Espero estas semanas ter um terreno e começar a construir uma casa em madeira. Espero esta semana continuar a delinear o projecto que quero realizar com turismo regenerativo. Espero conseguir criar as condições para me dedicar a escrever mais textos, a amar a vida e as pessoas que a compõem e silenciar para contemplar o que a natureza tem para mim.




Sem comentários:

Enviar um comentário