segunda-feira, 22 de maio de 2023

Bases do Turismo Regenerativo


Beeee yourself

Refletindo sobre uma pergunta que me fazem constantemente, “na prática o que é o turismo regenerativo?”, é importante começar por explicar o pensamento regenerativo que o sustenta.

Começo por relembrar que não há uma história única das coisas (como apresentado pela Chimamanda Ngozie), o que me leva a refletir sobre a necessidade de não haver uma história única de mim e do meu papel e impacto no mundo, na vida. Esta ideia aliada à procura de pontes para o que existe à minha volta, formam um pensamento que é cada vez mais uma filosofia de vida. Filosofia esta que me ajuda a questionar e refletir sobre quem sou, qual é o meu ritmo e como melhor posso viver em harmonia entre o que está vivo dentro de mim e esse mundo que me rodeia. Para isso, desenvolvo actividades e procuro experiências que me permitam estar em ligação comigo. Que façam a ligação entre a natureza interna e a externa. Ao agir assim, percebo claramente que não tenho de ser uma engrenagem de uma máquina que vem sendo constantemente melhorada ao longo de séculos com o sacrifício e exploração de recursos de forma nada sustentável ou regeneradora. 

Esta é uma mudança fundamental de mindset e esta mudança é fundamental porque permite olhar para a forma como vivo sob uma perspectiva global e ao serviço de um todo maior que eu: a vida. 

Procuro então formas de participar activamente na minha comunidade para encontrar soluções e ideias para responder a desafios locais que tenham impacto positivo na minha vida e na própria comunidade e natureza. Desde criar e participar em colectivos e cooperativas, até deslocar-me de forma mais sustentável, como a bicicleta ou transportes públicos, e ainda procurando consumir o que é local e da época. Estudar e criar conteúdos para falar e transmitir sobre pensamento e turismo regenerativo é outro campo a que me dedico. São tudo exemplos de estar ao serviço da minha forma de ver e viver o mundo, alinhados com um ritmo que é o meu e que começa no meu coração e depois irradia para fora. 

Monte Bromo, Java, Indonésia
Assim, ao olhar para o turismo, que é a minha paixão e fonte de rendimento principal, viajar de forma regenerativa, significa:

  • Imersão na cultura local: ao invés de visitar muitos lugares rapidamente, dedico mais tempo a cada destino para realmente conhecer as pessoas e a cultura local. Interajo e participo em actividades comunitárias com o intuito de ser habitante local por um dia.

  • Empoderamento comunitário e participação activa: procuro e apoio projectos e iniciativas que capacitem as comunidades locais. Participo em actividades e serviços turísticos que são liderados por pessoas da própria comunidade, garantindo que o turismo traz benefícios diretos para os habitantes locais.

  • Encerramento de ciclos: promovo a sustentabilidade e a regeneração através do contributo para o encerrar dos ciclos de recursos em vez do desperdício e exploração dos mesmos (como explicado no Story of Stuff). Isso pode incluir o uso de práticas de reciclagem, redução ou eliminação do desperdício; utilização de fontes de energia renovável e apoio a projetos de conservação ambiental; comer em restaurantes ou negócios familiares que produzem, confeccionam e dão uma utilização aos restos da alimentação não utilizados ou confeccionados para produção de composto, alimento de animais; etc.

  • Compras sustentáveis: procuro e adquiro produtos que sejam pensados e produzidos localmente. Opto por produtos artesanais, alimentos orgânicos e souvenirs que reflitam a identidade e cultura da região visitada. Desta forma apoio a economia local e incentivo práticas regenerativas. Verificar se os produtos consumidos são oriundos de marcas fair trade e fair label, por exemplo, é outra forma de consumir de forma consciente..

  • Deslocação consciente. Tento sempre viajar de formas o mais sustentáveis ou regeneradoras possíveis entre onde estou e o destino. Quando realizo actividades em viagem procuro as melhores formas de deslocar-me e aos grupos de modo a utilizar recursos e serviços já existentes que verifiquem a mesma filosofia regeneradora.

Repito que tudo o que faço em viagem, é o resultado da forma como vivo em casa e que  mudança de mindset foca-se num impacto positivo e na criação de condições para potenciar e capacitar futuros emergentes mais positivos tanto em casa como os destinos onde viajo (como colocado pela Sandra Matos). 
Estes são os princípios do pensamento regenerativo que, quando aplicados ao turismo, podem potenciar uma mudança e uma transição para o turismo como uma ferramenta (como apresentam a Anna Pollock e Michelle Holiday) em que os indivíduos, as comunidades e a natureza vivem em complementaridade e colaboração, contribuindo para um sistema mais resiliente e regenerador.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Regeneração, regeneração, é só regeneração ...

Cordilheira Branca | Cordilheira Negra - Peru
Ao longo destes últimos anos estudei e vivo o pensamento regenerativo. Mais do que uma solução, é uma forma de pensar e de viver. A regeneração é um passo mais neste caminho que pretende estar ao serviço da vida. 
Ao longo da minha vida tenho viajado e vivido um pouco pelo mundo. Desde sempre parti pelos trilhos do planeta para o conhecer, para o sentir, para o viver. A verdade é que descobri que só em presença posso realizar o que me propus. A presença que apenas o tempo permite. Quando damos tempo, quando a pressa não mora onde estamos. Só assim conseguimos dar o tempo para essa qualidade de presença sobressair e a conexão existir. Conexão com o que está vivo em nós, com o local que nos rodeia e as possibilidades de ligação a ele, através das pessoas, da natureza, dos objectos, de tudo. 
Cada vez sinto mais desconforto em apanhar um avião para cruzar meio mundo e aterrar com um grupo de pessoas lá na outra realidade distante e diferente. A verdade é que não é assim tão diferente, na medida em que quem está lá, são pessoas também. Temos essa ligação humana como algo comum. Choramos, rimos, ficamos doentes, recuperamos, da mesma maneira por exemplo. É certo que com diferentes “mães culturas” (Ismael, Daniel Quinn) a sussurrar diferentes soluções para a vida, mas com este potencial humano em comum.

Portanto, quando me penso como um ser ao serviço da vida, não posso deixar de olhar para mim, para a relação comigo. Para as decisões que tomo no que me afeta em relação ao que como, à forma como me desloco, aos serviços, actividades, coisas que adquiro ou proporciono, tanto em casa como em viagem. Somos o que comemos, somos o que fazemos, e somos o que pensamos. Por isso, na regeneração, há que olhar para nós como uma parte que pertence a um todo. Todo este que é maior que nós e que engloba a natureza, os outros, o nosso contexto, a vida no geral. Não podemos olhar para o mundo de forma isolada, nem de forma partida, quebrada, pois é uma malha onde todos somos importantes para o resultado final.
Focando no que é importante, a regeneração de cada um, a mudança de mindset rumo a um mundo mais ao serviço da vida e do que ela representa: possibilidades. Possibilidades de transformação, de crescimento, de comunidade e de aprendizagens. O turismo, ao viver-se com pensamento regenerativo, adquire esta possibilidade de ser uma ferramenta ao serviço da vida. De empoderar as comunidades e, por arrasto, os indivíduos que as compõem. De dar novo alento e significado ao pacto entre nós e a natureza, não como exploradores, mas sim como parte integrante dela. De alimentar o ser que habita em cada um, como um ser que se questiona, que se vive e prospera na sua relação consigo, com o outro, com o mundo, com a vida.
É que, o mundo não vai a lado nenhum, mas nós vamos, vamos rumo a uma extinção em massa se continuarmos neste rumo. 

Portanto vamos trabalhar para mais regeneração? 🌱