segunda-feira, 21 de março de 2022

Turismo Regenerativo

Nos últimos anos tenho investigado e debruçado sobre o turismo regenerativo. Mas o que é isto de turismo regenerativo? Na verdade é um conceito que começa a aparecer cada vez mais nos dias que correm e que tenta ir mais longe que o turismo sustentável. A ideia de que podemos ter um turismo sustentável e que se prese por um impacto neutro ou que permita o manter do status quo tem de ser levantada. Para isso aparece então este turismo regenerativo que parte do pressuposto que podemos ter um impacto positivo abrindo as portas a um legado benéfico para os futuros emergentes com base na mudança de paradigma.

Assim, pretende-se que cada um de nós realize acções mais conscientes e responsáveis que reflitam um estilo ou filosofia de vida de cada individuo que está mais em conexão consigo, que é mais conhecedor de quem é e dos seus ritmos. Este será o ponto de partida para tudo o que vem depois. Olhando para dentro e para quem somos, para os nossos pontos fortes e fracos, para o que nos faz brilhar e sorrir, encolher ou chorar. Quais as nossas vulnerabilidade e onde e quando nos sentimos expostos mas também quando estamos fortes. No fundo percebermos melhor quem somos ajuda a estabelecer a base para a relação que temos depois com os outros. Ajuda a empatia com quem está do outro lado e, seja animal humano, ou animal de outra espécie, seja do mundo vegetal ou de qualquer outro reino, ajuda a conexão de um ponto comum: todos somos parte deste meio integrante que nos sustenta, a natureza. 

Huaraz, Peru em 2012
Desta forma urge então perceber como podemos ajudar e contribuir com a nossa vida, com as nossas acções para preservar e impelir a natureza. Sem sermos deuses ou arrogantes ao ponto de pensar que a podemos controlar, mas aceitando que podemos ter um papel no seu equilíbrio do qual todos beneficiamos. Não estou a dizer que temos de abandonar a ciência e tudo o que ela e a nossa história nos tem proporcionado ao longo de milhares de anos, mas sim ajustar os nossos comportamentos como parte integrante deste todo e não acima de algo ou alguém como tem acontecido nos últimos séculos ou milénios de evolução contínua em cima dos recursos que estavam disponíveis e agora ou escasseiam ou deixam de existir, em cima de explorados e oprimidos, em cima de modelos económicos ao serviço de uns e não de todos, etc ao ponto da nossa própria sobrevivência estar em causa neste planeta.

Portanto o turismo regenerativo pode ter respostas e pode ter um papel fundamental a desempenhar na medida em que permite a cada individuo olhar para si, olhar para os que o rodeiam, olhar para as relações sociais e económicas com os que os rodeiam mas também com o ambiente. Permite ter uma visão global e integrada de todos os intervenientes neste tempo e espaço que cada um ocupa na passagem por esta terra que é única. Não há de facto planeta B para nós porque dependemos dele para sobreviver. Para o universo e para o planeta há muito mais que isso, há vida que continua depois de nós. Sem querermos ser arrogantes ao ponto de querermos declarar-nos os salvadores das outras espécies e do planeta, temos de pegar nas rédeas das nossas acções e declarar-nos responsáveis por elas e caminhar rumo à sua transformação, à sua regeneração em algo positivo, em algo que permita um futuro.

workshop de culinária para grupo com a Papa-Léguas em aldeia rural no Laos

Visitas com o Baba Raju em Varanasi com grupo da Papa-Léguas 
O turismo regenerativo pode não ter todas as soluções, pode não ter todas as respostas mas tem um caminho claro rumo a algo mais que a sustentabilidade: a mudança de paradigma. A mudança de mindset do vamos fazer o melhor possível para não destruir, para vamos fazer o tudo para melhorar o que está feito. Com a mudança de atitude não há mal que não se mude, dizia o Gabriel o pensador e penso que aceitando a responsabilidade e com coragem mergulharmos todos no que podemos fazer melhor e diferente, no ter tempo para relacionar connosco e com os outros, podemos descobrir um caminho diferente e cooperante entre todos, que inclua todos e que se sobreponha aos nacionalismos, aos especismos, aos superiorismos que cultivamos e alimentamos para sustentar regimes e sociedades cansadas e desgastadas por séculos de erosão e abusos políticos, sociais e humanos.

Alojamento local de uns amigos na ilha das Flores

Na prática é, por exemplo, estar além do ir consumir local ou focar no que é de um sítio. É procurar respostas que cá têm impacto no outro lado, fazer parcerias e redes de apoio entre organizações e pessoas com ideais semelhantes para dar estrutura e força aos movimentos emergentes que podem ajudar a transformar o que já existe. É assumir a mudança e querer fazer parte dela ao invés de apenas a mencionar ou apoiar esporadicamente. É ouvir e abrir à novidade sem a rejeitar e sujeitar ao politicamente correcto dos últimos séculos que é marcadamente sexista, racista, especista, consumista. É olhar para o todo e para o particular e encontrar as pontes para que ambos se retro-alimentem sem prejuízo e em cooperação ao invés de competição. É assumir um lugar na natureza que é parte integral dela e nem está nem acima nem abaixo, mas sim no seu todo e que permite interagir e viver em cooperação com ela.

Recomendo muito ler o livro Designing Regenerative Cultures do Daniel Christian Wahl (link aqui) e ouvir o podcast (link aqui) da Anna Pollock dedicado ao Turismo Regenerativo.

Tudo isto e muito mais será o turismo regenerativo mas sem o nosso contributo e vivência diária de uma filosofia regenerativa não nos leva a lado nenhum. Por isso o nosso planeta A é aqui, no presente e no viver e ser agora de forma consciente, desperta e responsável.



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