Refletindo sobre uma pergunta que me fazem constantemente, “na prática o que é o turismo regenerativo?”, é importante começar por explicar o pensamento regenerativo que o sustenta.
Começo por relembrar que não há uma história única das coisas (como apresentado pela Chimamanda Ngozie), o que me leva a refletir sobre a necessidade de não haver uma história única de mim e do meu papel e impacto no mundo, na vida. Esta ideia aliada à procura de pontes para o que existe à minha volta, formam um pensamento que é cada vez mais uma filosofia de vida. Filosofia esta que me ajuda a questionar e refletir sobre quem sou, qual é o meu ritmo e como melhor posso viver em harmonia entre o que está vivo dentro de mim e esse mundo que me rodeia. Para isso, desenvolvo actividades e procuro experiências que me permitam estar em ligação comigo. Que façam a ligação entre a natureza interna e a externa. Ao agir assim, percebo claramente que não tenho de ser uma engrenagem de uma máquina que vem sendo constantemente melhorada ao longo de séculos com o sacrifício e exploração de recursos de forma nada sustentável ou regeneradora.
Esta é uma mudança fundamental de mindset e esta mudança é fundamental porque permite olhar para a forma como vivo sob uma perspectiva global e ao serviço de um todo maior que eu: a vida.
Procuro então formas de participar activamente na minha comunidade para encontrar soluções e ideias para responder a desafios locais que tenham impacto positivo na minha vida e na própria comunidade e natureza. Desde criar e participar em colectivos e cooperativas, até deslocar-me de forma mais sustentável, como a bicicleta ou transportes públicos, e ainda procurando consumir o que é local e da época. Estudar e criar conteúdos para falar e transmitir sobre pensamento e turismo regenerativo é outro campo a que me dedico. São tudo exemplos de estar ao serviço da minha forma de ver e viver o mundo, alinhados com um ritmo que é o meu e que começa no meu coração e depois irradia para fora.
Imersão na cultura local: ao invés de visitar muitos lugares rapidamente, dedico mais tempo a cada destino para realmente conhecer as pessoas e a cultura local. Interajo e participo em actividades comunitárias com o intuito de ser habitante local por um dia.
Empoderamento comunitário e participação activa: procuro e apoio projectos e iniciativas que capacitem as comunidades locais. Participo em actividades e serviços turísticos que são liderados por pessoas da própria comunidade, garantindo que o turismo traz benefícios diretos para os habitantes locais.
Encerramento de ciclos: promovo a sustentabilidade e a regeneração através do contributo para o encerrar dos ciclos de recursos em vez do desperdício e exploração dos mesmos (como explicado no Story of Stuff). Isso pode incluir o uso de práticas de reciclagem, redução ou eliminação do desperdício; utilização de fontes de energia renovável e apoio a projetos de conservação ambiental; comer em restaurantes ou negócios familiares que produzem, confeccionam e dão uma utilização aos restos da alimentação não utilizados ou confeccionados para produção de composto, alimento de animais; etc.
Compras sustentáveis: procuro e adquiro produtos que sejam pensados e produzidos localmente. Opto por produtos artesanais, alimentos orgânicos e souvenirs que reflitam a identidade e cultura da região visitada. Desta forma apoio a economia local e incentivo práticas regenerativas. Verificar se os produtos consumidos são oriundos de marcas fair trade e fair label, por exemplo, é outra forma de consumir de forma consciente..
Deslocação consciente. Tento sempre viajar de formas o mais sustentáveis ou regeneradoras possíveis entre onde estou e o destino. Quando realizo actividades em viagem procuro as melhores formas de deslocar-me e aos grupos de modo a utilizar recursos e serviços já existentes que verifiquem a mesma filosofia regeneradora.
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