Myanmar, ou melhor Birmânia para os amigos! Este país que tem o nome oficial criado num encontro onde os fortes impuseram aos fracos as suas condições e a sua vontade. Assim continua a história volátil de um país fustigado por várias guerras dentro das suas fronteiras e interesses económicos devido aos seus vastos recursos já explorados ou por explorar. Podia escrever um texto sobre isto e tirar ilações, mas prefiro focar-me no que ficou marcado em mim destes 14 dias a viajar pela Birmânia (escrevo este nome porque efectivamente tomo uma posição contra um regime que destruiu e ainda hoje tem repercussões e controlo no país).
A Birmânia é um país de contrastes onde as cidades sobrepovoadas sofrem dos males disso mesmo: poluição; sujidade; poeira; lixo; lojinhas; restaurantes e motas atulhadas onde é possível atulhar, mercados onde o peixe, a carne e os vegetais sobressaem entre mil e uma bugigangas ao ar livre e onde apenas os sacos de plástico agitados na ponta de pauzinhos pelas respectivas donas impedem (por vezes com sucesso) que as moscas lá pousem; cheiros fortes; e ainda algumas características da baía de bengala como a paan (mistura de folhas e nozes de betel com especiarias e ... cal) cuspido no chão que dá uma tonalidade às ruas avermelhada e um sorriso avermelhado ou sem dentes a muitos homens e mulheres; ruas onde os homens com os seus longyis com padrões quadriculados e mulheres com uns mais elaborados e coloridos com os rostos abundantemente cobertos de thanaka (árvore cuja madeira em pó se mistura com água e algum óleo essencial e serve de protector e hidratante natural da pele), realizam os seus afazeres; crianças a pé ou em bicicletas e de uniforme a entrar e sair das escolas, enfim uma panóplia de pessoas no seus afazeres diários em praticamente tudo iguais aos nossos.
Toda esta imagem citadina, digna de real preparação para quem quiser ir à Índia, muda com o avançar do comboio saltitante pelo campo fora e transforma-se em tempo parado. Seja nas montanhas onde algumas pessoas ficam surpreendidas com a minha espessa e grande barba preta, seja nas crianças que primeiro desconfiam e depois gritam e correm aos pulos connosco em mil brincadeiras, seja nos adultos que apesar da barreira linguística nos abrem as suas portas de casa onde os mais idosos fumam os seus cigarros verdes apenas com tabaco local e conversam com as visitas que ocasionalmente lá vão passando. A vida ao longo dos rios mantém-se também inalterada com o comércio local e tradicional a voltar a florescer, servindo a viagem de dois dias de barco ao longo do rio irawady para perceber e absorver mais isto de forma linda e memorável. Em tudo oposto aos opulentes cruzeiros ao estilo de Hercule Poirot pelo rio Nilo, tínhamos tempo para ler, meditar, conversar, ver incríveis pôr e nascer do sol, enquanto combatíamos a corrente rio acima e víamos as vidas, lixo e histórias que o rio quis contar.
Sentimos que o povo birmanês, apesar de vasto (mais de 50 milhões), composto por tribos e etnias diferentes, com lutas internas que em muito dificultam o deslocar pelo país, são hospitaleiros e orgulhosos das suas raízes. Pode não haver noção de nacionalidade enquanto identificação com um país; pode haver pobreza e corrupção; dificuldades em viver e deslocar-se por parte dos turistas mas sem dúvida vale a pena visitar e perceber isto com os olhos para retirar ilações do que é um país em vias de crescimento turístico e dos erros e oportunidades que isso acarreta. Uma palavra ainda de desilusão para a forma como Bagan é tratada, e este local que podia ser UNESCO não é, porque simplesmente todos, deste turistas até ao regime o utilizaram e utilizam à sua vontade sem se responsabilizar pela sua manutenção e esplendor a não ser vender o local sempre e continuamente independentemente de tudo. Infelizmente todos somos coniventes. Há que mudar e repensar a abordagem.
A nossa viagem fica marcada também pelas pessoas que conhecemos e nos acompanharam nestas explorações, o Kyiota e a sua passividade em todas as situações, a Rioko e o seu espanto e interesse genuínos, o Hely com as suas palavras sábias e energia tranquilizadora, o Bertrand e o seu sorriso único e vivo e a incontornável Elena e os seus devaneios e energia contagiante que só o seu sorriso também único sabe expressar.
Em breve fotos para ilustrar os nossos 14 dias de aventuras e desventuras. Agora um mergulho e relaxar a preparar outra viagem! Até jáaa :-)
A Birmânia é um país de contrastes onde as cidades sobrepovoadas sofrem dos males disso mesmo: poluição; sujidade; poeira; lixo; lojinhas; restaurantes e motas atulhadas onde é possível atulhar, mercados onde o peixe, a carne e os vegetais sobressaem entre mil e uma bugigangas ao ar livre e onde apenas os sacos de plástico agitados na ponta de pauzinhos pelas respectivas donas impedem (por vezes com sucesso) que as moscas lá pousem; cheiros fortes; e ainda algumas características da baía de bengala como a paan (mistura de folhas e nozes de betel com especiarias e ... cal) cuspido no chão que dá uma tonalidade às ruas avermelhada e um sorriso avermelhado ou sem dentes a muitos homens e mulheres; ruas onde os homens com os seus longyis com padrões quadriculados e mulheres com uns mais elaborados e coloridos com os rostos abundantemente cobertos de thanaka (árvore cuja madeira em pó se mistura com água e algum óleo essencial e serve de protector e hidratante natural da pele), realizam os seus afazeres; crianças a pé ou em bicicletas e de uniforme a entrar e sair das escolas, enfim uma panóplia de pessoas no seus afazeres diários em praticamente tudo iguais aos nossos.
Toda esta imagem citadina, digna de real preparação para quem quiser ir à Índia, muda com o avançar do comboio saltitante pelo campo fora e transforma-se em tempo parado. Seja nas montanhas onde algumas pessoas ficam surpreendidas com a minha espessa e grande barba preta, seja nas crianças que primeiro desconfiam e depois gritam e correm aos pulos connosco em mil brincadeiras, seja nos adultos que apesar da barreira linguística nos abrem as suas portas de casa onde os mais idosos fumam os seus cigarros verdes apenas com tabaco local e conversam com as visitas que ocasionalmente lá vão passando. A vida ao longo dos rios mantém-se também inalterada com o comércio local e tradicional a voltar a florescer, servindo a viagem de dois dias de barco ao longo do rio irawady para perceber e absorver mais isto de forma linda e memorável. Em tudo oposto aos opulentes cruzeiros ao estilo de Hercule Poirot pelo rio Nilo, tínhamos tempo para ler, meditar, conversar, ver incríveis pôr e nascer do sol, enquanto combatíamos a corrente rio acima e víamos as vidas, lixo e histórias que o rio quis contar.
Sentimos que o povo birmanês, apesar de vasto (mais de 50 milhões), composto por tribos e etnias diferentes, com lutas internas que em muito dificultam o deslocar pelo país, são hospitaleiros e orgulhosos das suas raízes. Pode não haver noção de nacionalidade enquanto identificação com um país; pode haver pobreza e corrupção; dificuldades em viver e deslocar-se por parte dos turistas mas sem dúvida vale a pena visitar e perceber isto com os olhos para retirar ilações do que é um país em vias de crescimento turístico e dos erros e oportunidades que isso acarreta. Uma palavra ainda de desilusão para a forma como Bagan é tratada, e este local que podia ser UNESCO não é, porque simplesmente todos, deste turistas até ao regime o utilizaram e utilizam à sua vontade sem se responsabilizar pela sua manutenção e esplendor a não ser vender o local sempre e continuamente independentemente de tudo. Infelizmente todos somos coniventes. Há que mudar e repensar a abordagem.
A nossa viagem fica marcada também pelas pessoas que conhecemos e nos acompanharam nestas explorações, o Kyiota e a sua passividade em todas as situações, a Rioko e o seu espanto e interesse genuínos, o Hely com as suas palavras sábias e energia tranquilizadora, o Bertrand e o seu sorriso único e vivo e a incontornável Elena e os seus devaneios e energia contagiante que só o seu sorriso também único sabe expressar.
Em breve fotos para ilustrar os nossos 14 dias de aventuras e desventuras. Agora um mergulho e relaxar a preparar outra viagem! Até jáaa :-)
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