segunda-feira, 12 de março de 2012

Ilusões

Parece que ando no mundo dos sonhos com estes títulos, mas na verdade ando bem "na real". Desta vez deixo umas reflexões (curtas prometo).

A verdade é que enquanto jogava ao Lobo (quem diria aqui na China) e tinha de pedir a alguém que me traduzisse para inglês o que estava a ser dito e me pudesse defender que não era o lobo ou que era outra personagem qualquer e depois contra-argumentar contra argumentos que nunca percebia, senti a verdadeira simulação dos "jogos diplomáticos" e da barreira linguística. É fantástico pois há palavras que jamais serão traduzidas corretamente, pois são muito mais que palavras, são sentimentos, experiências, momentos que estão todos contidos em algo a que chamamos de palavra, mas que por vezes por si só não chega para sequer raspar na casca da verdade do seu significado.  Por exemplo a nossa tão portuguesa "saudade" é uma delas. Portanto palavras podem ser ilusões, dai quando estava no Irão ter perdido a magnífica poesia persa e os seus significados, ficou incompleta, o mesmo aqui com o Mandarim e o que perco por não saber ler os caracteres ou perceber o seu significado. É como dançar de forma mecânica, dançamos sem dúvida, mas não vivemos a dança plenamente não somos conduzidos pelo corpo ou som, mas sim pelos passos mecânicos que aprendemos.

Mas outra coisa se elevou durante este jogo enquanto falava com estes amigos que me acolherem em casa deles como sendo um deles e com quem partilhei um fim de semana fantástico numa das 10 maiores cidades da China que só contém cerca de 7 milhões de habitantes, coisa pouca. Apercebi-me da ilusão da liberdade!

Por outras palavras, a China cresce a um ritmo alucinante! Há dinheiro a circular, há mercados, há eletricidade, água, esgotos, estradas, aquecimento, trabalho, condições a serem espalhadas por todo o mundo chinês, inclusive nas províncias longínquas do Tibete e do Oeste menos desenvolvido. As pessoas estão felizes e muitas delas nem se preocupam com a falta de liberdade e de acesso a meios de comunicação como o facebook, informação atualizada sobre o mundo em sítios na internet internacionais e por ai fora. O que a Índia ainda é hoje, a China era há vinte anos atrás. Agora é um país totalmente diferente, mais desenvolvido e a crescer cada vez mais. Todavia há certos assuntos e certas informações vedadas, que são tabu, mas porque devem estas pessoas preocupar-se com isso ou com a política se não podem fazer nada para alterar as decisões que o partido toma por eles?

Até que ponto devem os chineses abdicar das suas liberdades de acesso à informação ou de falar sobre determinados assuntos, em detrimento de um crescimento e desenvolvimento inquestionavelmente grandes que até permitem tanto a nível físico como mental atingir diversos estados plenos de felicidade?

Na Europa também vivemos a ilusão da democracia, na medida em que nos deixam votar (doce cenoura) e depois são os mesmos ou as mesmas políticas corruptas que seguem em frente. Sinto que vivemos globalmente numa ilusão de nós e de onde podemos ir enquanto humanos, em que optamos por silenciosamente abdicar, tanto aqui, como na Europa, das nossas capacidades de decisão e participação na vida ativa e alimentamos este estado de ilusão do mundo, um estado em que o próprio mundo é a ilusão daquilo que nós somos, gente adormecida ...

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