domingo, 18 de fevereiro de 2018

Índia, selvagem e crua.

Às vezes é-me difícil descrever a Índia. Estou agora a caminhar ao redor do complexo do taj mahal. No caminho já vi papagaios verdes a comer sementes no meio de esquilos enquanto duas vacas passavam a comer erva e um cão se espreguiçava ao sol, tudo sob o olhar atento de um kingfisher do alto de uma árvore. Que mais? Bem, muito mais. Cabras e porcos, pavões e corvos, bul bul e não sei quê preto. Pombos e macacos. Jainistas, budistas, cristãos, ortodoxos, muçulmanos, gurus, sanyasas, sadhus, rishis, babas, hindus, turistas e viajantes. De chai, chapati, panir, puris, gulab jamu, leite morno antes de dormir e ghee. De bam bam bolês, ram ram, jap malas, bengalas, chiloms, oms, oferendas e ezans. Paixões, amores e ódios fáceis tal são as convicções e crenças enraizadas. Pobreza e riqueza espiritual a par de extrema pobreza e miséria humanos
No entanto coloridos saris e turbantes, ouro e prata iluminam as ruas. Actores e actrizes de bollywood mas também no dia a dia. Tanta mas tanta diversidade. Caminho pelo meio da selva amazônica parece, tal é o ruído e cantar da floresta. No entanto estou na Índia e por isso esta floresta é feita dos animais, certo, árvores mil, flores com as mais variadas cores e cheiros, plantas e, claro, carradas de plástico. Perguntava-me à pouco se haveriam tantas vacas a passear antigamente, se os animais andavam assim tao livremente e em tanta quantidade como agora. Hum, que boa brisa chegou. Não devia ser assim nos tempos antigos. Apesar de uma maioria hindu os moghuls tinham punho de ferro e seguramente afastaram para o campo as maiorias hindus mantendo-as desinformadas e deseducadas. Talvez isso explique a Índia de hoje e do karma. Talvez não pois a índia é, e sempre foi, igual a si própria: selvagem e crua. Num bom sentido, aquele que nos trás a nós e leva a passar por uma kali ou shiva e pedir que nos destruam o excesso, o ego. Aquela Índia onde as crianças ainda correm semi-nuas a brincar e se misturam com os animais. Aquela Índia de feições e traços carregados, marcados pela vida dura e machismo. É uma Índia única e diversa. De sorrisos fáceis e descomprometidos ainda que às vezes chatos e desesperados. É a India da sobrevivência onde se luta e labuta. Tal como nós quando olhamos para dentro e contemplamos o ser até deixar ele ser. Sejamos selvagens, bons, mas selvagens.


Sem comentários:

Enviar um comentário