terça-feira, 31 de julho de 2012

O dia que foram dois!

Estou em São Francisco, finalmente mudei de continente! Não que estivesse saturado ou farto da Ásia, mas porque precisava de continuar a minha viagem e chegou a altura de desbravar as mil e uma américas!

Decidi vir a São Francisco pois é o aniversário da Lauren amanhã e porque tinha de começar a viajar na América por algum lado, por isso porque não aqui!?

A minha viagem para São Francisco começou às 16h20 há três dias quando apanhei o comboio em Delhi com destino a Calcutá e que em vez das 24 horas previstas demorou 26 horas. Nesta viagem conheci o Minda, um Lituano, que está a viajar e que me fez querer voltar à Lituânica agora com mais calma e explorar o país propriamente. Posto isto e uma noite de pausa em Calcutá, pelo meio dia um avião para Banguecoque. Aqui tive de esperar umas horas até apanhar outro avião até Shanghai. Pelo meio conversa com duas famílias portuguesas de advogados que se encontravam a viajar pelo sudoeste asiático e um casal espanhol que regressava das férias na Tailândia. Além destas conversas tive quatro horas para ir sair do aeroporto e ir à cidade buscar umas roupas que tinha deixado na guest house onde fiquei, comer, comprar água e regressar ao aeroporto a tempo do check in. Custou mas com alguma sorte, um taxi e muita paciência para a hora de ponta em Banguecoque lá passei este desafio. Mais um avião que saiu para Shanghai e uma noite mais ou menos dormida. Cheguei pela madrugada a Shanghai e tive de esperar pelas 13 horas locais para apanhar outro avião com destino a Los Angeles. Ali chegado tive de passar a imigração e o controlo de bagagens e apanhar outro avião que saiu às 13h59 para São Francisco. Neste último voo dormi a hora e meia toda mal me encostei à janela. O jet lag não se faz sentir muito mas estou cansado de não dormir tanto. Foi até agora a sequência de viagens mais atribulada e complicada mas que correu bem, pois tanto eu como a minha mochila chegámos ao destino sãos e salvos: São Francisco.

Factos curiosos:

  • Apanhei dois aviões no mesmo dia por volta das 13 horas;
  • Jantei perto da chegada a Los Angeles às 8 horas da manhã locais;
  • O indivíduo que viajou ao meu lado no avião que cruzou o Pacífico não se conteve nos gases que libertou, o que, associado ao assento que era duro, não permitiu uma viagem tranquila;
  • Os guardas na fronteira americana que me carimbaram o passaporte e me fizeram o controlo da bagagem eram ou da América central ou América do sul e um deles inclusive falava Português :D
  • Todo o pessoal que encontrei a trabalhar nos aeroportos nos Estados Unidos foi mega simpático e as pessoas também;
  • Passei pela primeira vez nas máquinas que constroem uma imagem do nosso corpo para verificar se temos algo escondido em vez da revisão manual por parte do agente da autoridade e na minha máquina o boneco que tem as instruções de como colocamos as mãos e nos posicionamos tinha um sorriso desenhado por alguém;
  • Lavei roupa nas lavandarias que vemos nos filmes e foi bastante simples com a senhora da Guatemala que gere a loja a ajudar-me em espanhol;
  • A viagem mais longa que realizei de comboio demorou 26 horas, a de autocarro 27 horas e a de avião 12 horas.
Enfim mais peripécias ocorreram mas estas são de salientar. Sabe bem mudar de continente ao fim de dez meses e 6 dias a viajar na Ásia e sinto-me bem aqui nos Estados Unidos. É engraçado pois a diferença é radical passar do contexto e realidade Indianas para as Americanas. De qualquer das formas senti mais isso na forma como, por exemplo, as raparigas estão com calções justos, decotes maiores, cabelos, braços, pernas e mãos destapadas por oposição a muitos países asiáticos onde o corpo feminino é ou protegido ou coberto por ditos religiosos. O tráfico flui de forma ordeira e conduz-se do lado correcto da estrada o que já me levantou problemas pois passar tanto tempo em países onde se conduz como Inglaterra faz-me olhar ainda para o lado direito primeiro em vez do esquerdo quando atravesso as passadeiras. O calor e humidade foram substiutídos por uma aragem fresca que sabe a chocolate de tão bem vinda que é e o sol faz-se sentir à moda que Lisboa nos acostumou: quente e acolhedor, não adulteramente quente e constrangedor.

Enfim pelo que vou vendo e percebendo São Francisco até vai ser uma boa preparação para a América do Sul na medida em que muita gente fala espanhol e todos os cartazes estão em Inglês e Espanhol. De resto vamos ver o que esta cidade tem para oferecer e que por enquanto parece prometer! :D

Mais notícias em breve pois agora tenho acesso mais frequente e seguro à net e vou passar aqui cerca de 15 dias em casa da Lauren que é fantástica. Já conheci o pessoal que vive cá e que parece ser muito fixe também. Bom tenho 15 dias para os conhecer melhor e ver o que é viver em São Francisco!

A Ásia foi incrível, aprendi imenso, cresci imenso e tenho agora a responsabilidade de contar várias estórias de pessoas que me marcaram e mudaram o meu mundo para algo melhor, algo real e ao mesmo tempo replecto de magia e felicidade palpáveis!

Até lá, bem vindos à América e ao novo mundo (e à minha nova etapa nesta viagem incrivelmente incrível) :D

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Perto do fim: da India, da Asia, do tempo.


Olá a todos e bem vindos a mais um episodio da vida no mundo, hoje vao ouvir falar de ... :D

Estou neste momento em Delhi, na véspera de regressar a Kolkatta de onde voo para Bangkok depois de amanhã e onde inicio a minha viagem que me vai levar a um novo continente, a América. Mas antes disso, mais notícias da Índia
Nos últimos dias tenho vivido experiências magníficas, desde as burocracias indianas em Delhi, passando por chuvadas e dias de calor e humidade como só imaginamos em Portugal, até tentar jejuar enquanto vivi com uma família muçulmana em kashemira.

Copos de barro para o cha

Em Delhi passei cerca de treze dias a viver com a Shyla, a namorada indiana de um amigo português, que me acolheu enquanto a Lauren fez um curso Vipassana de dez dias. Durante este tempo pude ver algumas coisas da cidade que os turistas normalmente não vêm e percebi um pouco mais sobre o quão complexa é a burucracia Indiana, por exemplo para ter um novo passaporte é preciso preencher mil papéis, pagar imenso dinheiro e esperar imenso tempo após tudo isto. Já sem contar com as filas e horas nelas perdidas em esperas por vezes infrutíferas. Tirando estes passeios aproveitei para lhe ensinar português, cozinhar, tornar-me movie addicted com longas horas a ver filmes na TV (também faz parte da viagem ehehe) e a falar sobre os problemas da Índia como a sobrepopulação, a corrupção, a violência (física e psicológica) e por ai fora. É a outra face da incrível Índia.

Ruinas de uma mesquista, madrassa e tumulo de um imperador Moghul em volta de um lago que ants serviu de reservatorio

Após estes dias de relaxamento em casa, até porque o calor e a humidade lá fora pouco mais permitem que ir comprar alguns mantimentos para ter em casa, pelo menos para mim que não estou habituado a estas condições climatéricas que são duras, imaginem andar dez minutos e chegar ao outro lado da rua todos suados. Só custa a primeira caminhada mas depois de uns dias a faze-lo apetece-nos descansar e não andar todos molhados o dia todo, perde-se a vontade de sair ... Quando estive em Cabo Verde, em voluntariado, as condições eram semelhantes mas acabamos por nos adaptar mais depressa pois o trabalho e as pessoas que temos pela frente são um incentivo extraordinário, agora enquanto viajo sinto um pouco que prefiro descansar e retemperar forças para o resto da viagem.  Entretanto sabe bem saber os preços dos rickshaws e das demais coisas, orientar-me na cidade e regatear com os condutores de rickshaw em hindi (ainda que rudimentar) :D

Bom, nos ultimos dias, de Delhi seguimos, eu e a Lauren, para Kashimira e para os rumores de guerras, conflitos ainda patentes nas vidas das pessoas e o mundo muçulmano em força. Uma vez lá chegados e sem sítio para dormir paramos numa farmácia para comprar um medicamento e em conversa com o proprietário da farmácia, o Shakeil, somos convidados para ir viver com a família dele. Após alguma conversa lá acabamos por aceitar e passámos uma semana na companhia dele e da sua família. foi fantástico e deu para perceber algumas coisas mais sobre o conflito que desde 1947 aflige esta região.

Jardins proibidos ou jardins moghuls como por ali sao chamados

Casas em pedra e com arte, gosto.


Kashemira é um enclave no norte da Índia que faz fronteira com o Paquistão, a China (Tibete) e o Afeganistão. Possui muitos rios que produzem energia eléctrica e montanhas que tanto no verão como no inverno são um deleite para as massas de turistas que afluem aos Alpes, Pirinéus ou Himalaias e que podem passar a rumar aqui em busca de aventuras como trekking (Verão) ou ski (inverno) entre outras actividades culturais. Por enquanto sao mais os indianos que se deliciam por aqui. Como tal a Índia não quer abdicar deste pedaço de terra e os Kashemiris suportados por um Paquistão que por ver muçulmanos sob domínio estrangeiro, os suporta, evidentemente, mantendo um olho na sua cota parte caso essa independência chegue. Parece um tanto ou quanto improvável que venha pois são muitos os interesses económicos da Índia.

Para os amantes dos canabinoides por estas zonas encontra-se no estado natural e com facilidade canabis.

Verao e assim, no inverno e tudo branco.

Capuchinhos vermelhos e florestas :)

A ver passar o dia.

Paz, agua, verde e vacas onde elas pertencem (no campo).

é inegável que Kashemira é um estado totalmente diferente do resto da Índia, seja pela sua geografia, mas também pelas pessoas que, sendo maioritariamente muçulmanas, vivem com algumas regras diferentes do resto da Índia. Certo é que a indústria do armamento e dos uniformes militares ganha tremendamente com este negócio da guerra e os políticos corruptos por princípio que fecham os olhos e mantêm o estado da coisa enriquecem também. No final uma população sujeita a recolheres obrigatórios e privações de electricidade, água e bens gerais, vive com os seus fantasmas e a sua filosofia sufi ou muçulmana plenamente instalada. Este é, aliás, outro factor principal para o problema de Kashemira. Os muçulmanos aqui não são fundamentalistas, mas vivem o Islão de acordo com as premissas mais agressivas do Corão. Por exemplo para eles uma "jihad" ou "futewad" é algo natural pois invoca a defesa perante deus e os homens dos bens mais essenciais do ser humano. Seja em defesa da sua pessoa, ou de outro (familiar ou não) qualquer muçulmano pode faze-lo como forma de libertação e é isso que têm feito nas últimas décadas em Kashemira originando conflitos com mortos ou feridos graves. Portanto se culpados houvessem desta situação, penso que todos são alvo para ter um dedo apontado.

Vestimenta tradicional em pashemina

Vivi uma nova experiência no mundo islâmico e que passa por realizar jejum. Esta é a altura do ramadão e como tal desde as 4 horas da manhã até as às 7h30 da noite faz-se jejum que implica nem comer nem beber nada. Às três horas da manhã acorda-se para rezar e quebrar o jejum, depois durante o dia reza-se mais que o normal e vive-se a vida diária um pouco mais lentamente já que sem comida há que proteger o corpo. Depois às 7h30 quebra-se o jejum e comes-se após rezar e antes de ler o corão. Este jejum é uma forma de limpar os pecados e realizar um sacríficio por todos esses pecados cometidos durante o resto do ano, serve portanto para limpar a alma. As mesquitas e os seus imans ou mulás, estão constantemente activas com leituras do Corão, que na verdade são cãnticos devido à entoação que nelas é colocada, orações e conselhos aos fiéis. Enfim é um mundo novo e uma nova experiência que não foi totalmente aproveitada pois não nos deixaram jejuar por sermos convidados lá em casa. De resto é um adaptar às maneiras locais. Os homens não falam com mulheres com quem não têm relação a não ser que ela se dirija a eles, as mulheres usam os cabelos e o corpo cobertos e ficam preferencialmente em casa a tomar conta das crianças e da casa. Todavia têm liberdade para sair e fazer coisas na rua. Se falarmos com as mulheres ou raparigas para elas é inconcebível viver noutras circunstâncias pois é a forma como foram educadas e por isso tudo o que conhecem. Mesmo com internet e abertura ao mundo há ainda muita gente que vive ali parada no tempo.

Familia com quem bebemos "noon chay", cha com muuuuito sal e tradicional em Kashemira.

Costumes que nao mudam

Mais que noutros sítios como o Irão por exemplo e até um pouco mais que em Oman, em Kashemira senti um Islão parado no tempo. Um Islão que tal como a igreja católica corre o risco de desaparecer, mas porque não desaparece então? Simples, enquanto a libertação da mente e da religião na Europa e mundo ocidental fez com que o catolicismo seja algo que não serve os propósitos de vida, liberdade e felicidade de cada vez mais pessoas, aqui isso não se verifica pois a religião mantém um controlo feroz sobre a população, vive-se hoje em dia segundo os mesmos princípios que os muçulmanos vivem desde o início do Islão. Princípios estes que são controlados e adaptados há medida que é necessário pois a Sharia de um país ou região pode ser levada mais à letra e ser mais exigente para com os fiéis consoante a vontade dos homens. É aqui que reside a semente dos separatistas e fundamentalistas que originam terroristas. Um terrorista é um conceito não existente para um muçulmano nestas condições pois tudo o que seja feito em defesa da sua soberania ou liberdade é aceite por deus e garante entrada no céu. Como tal perder a vida por uma causa associada com estas máximas é o melhor que lhes pode acontecer. Isto é ensinado em Kashemira. Não me interpretem mal com o que aqui disse, não pretendo dizer que são todos terroristas em kashemira ou terroristas "wanna be", mesmo no restantre mundo muçulmano (até porque fomos extremamente bem acolhidos e tratados durante uma semana), mas sim que existem mentalidades e formas de ver as coisas bem diferentes das que pensamos quando propagamos a democracia aos quatro ventos e cometemos atrocidades em nome de um conceito que cada vez é mais corrupto e esquecido na nossa Europa.

E bom. já chega de ideias, neste momento estou a aproveitar o meu penúltimo dia em Delhi e tenho de ir ao alfaiate reparar o meu saco de viagem que tem viajado comigo desde Oman e que muito estimo. Ao mesmo tempo que lavo as últimas roupas e me vou despedindo da Ásia, foram, até agora, dez meses e dois dias de viagem que se traduzem num amadurecimento em viagem que me faz querer ficar mais tempo num local, cerca de 10 dias pelo menos a viver com pessoas e conhecer as suas vidas mais de perto. Inevitavelmente viajo mais pelos países mas ganho muito mais em termos de calor humano e diversidade que tanto contribui para a nossa unidade enquanto seres humanos e passageiros nesta viagem fantástica pelo tempo, a alma e o mundo.

A tradicao nao a impediu de pousar ... podemos nos tambem fazer o que nao nos deixam?



domingo, 1 de julho de 2012

A Índia continua a ser a Índia!

Estou num páteo, que não é o das cantigas, sei isso pois o templo que se ergue do chão à minha frente, em pedra vermelha e gasta pelo tempo, numa arquitectura medieval árabe com um Ganesh no local de destaque da divindade, relembra-me que de certo não estou em Lisboa. Bolas, logo agora que quando ao anoitecer me estendo no terraço, do prédio em frente ao hostel, a mirar os prédios e templos que se erguem colina acima, colina abaixo, cumeados maioritariamente por terraços e com alguns telhados de quando em vez, que se vão seguindo em fila e onde algumas torres se erguem mais alto num esforço vão por ficarem direitas numa guarda constante e secular da vida que decorre pacata e caótica nas ruelas apertadas por prédios, vacas, cães, pessoas que passam a pé ou de mota e lixo. O factor comum nesta imagem e também com Lisboa, é que tudo, literalmente tudo, termina no rio que banha esta cidade e de onde ela floresce para toda a eternidade: Varanasi.

Espaços ocupados por ...

Vista do hostel, terraços e sonhos.

Vias agitadas nesta cidade.

Portas dos sonhos têm de ser um sonho em si.

Andar nestas ruas é como andar no tempo, pular para o passado europeu e árabe enquanto nos perdemos pelos traços da história. Caminhar nas ruas estreitas é uma aventura sensorial, para todos os sentidos serem estimulados ao bom velho estilo indiano. Desde as músicas que ecoam pelas ruas oriundas dos templos ou terraços onde uma cerimónia religiosa ou um concerto acontecem, à linguagem exótica que nos espera em cada passo, o fedor do esterco de vaca, cães e pessoas misturados com lixo, com incensos ou com cheiros de comida, suór, calor, tudo. Passando pelos sabores de diferentes cozinhas: muçulmana; hindu; ocidental, etc. As cores da pele e das vestes de pessoas altas, baixas, ricas, pobres, sadus, gurus, turistas, viajantes e muito mais. O toque de têxteis, pedras, água do ganges, cumprimentos e conversas prolongadas com pessoas sedentas de nós e de quem somos (e por vezes do nosso dinheiro), permite viver uma experiência sem par nesta cidade. Tudo isto é a Índia e tudo isto vai ser sempre a Índia, conjunto de mil e uma razões, deuses, cores e povos que no final funcionam como uma chama eterna.

Vai um leque?

Sari, que magia são os saris por estas bandas.

Quero, huuum, um pacote de pó para lavar roupa !?

Meditar, rezar, orar, comunicar, quando quiser, onde quiser!

Dosa, comida do sul da Índia.

Passando o tempo há porta de casa :)

Pelos caminhos da vida.

Poses.

Just married!

Ah, espera ...

Velas? Flores? Eu vejo-vos!

Harmonia!

há espera da Puja (cerimónia religiosa)

As crianças brincam nas ruas a mil e um jogos perdidos na nossa memória de adultos: apanhada, ludo, escondidas, competições de papagaios ou, aqui mais que em lado algum, cricket. Os adultos passam em passo acelerado a caminho da sua vida agitada enquanto outros apenas tentam angariar clientes para as suas lojas ou negócios. As mulheres que não podem assistir às cremações caminham solene e tristemente das casas onde se despediram dos seus familiares partidos. Os hindus, baba jis, gurus e outros que tal passeiam-se nos seus trajes inexistentes ou típicos com tons de laranja bem vivos e a marca indistinta das suas crenças traduzidas pela cor e desenho do pó que colocam no centro da testa enquanto se cruzam com os poucos turistas que a monção não afugentou. Monção esta que é mais teórica que prática, visto que o calor está aqui a rondar os 40 e muitos graus, sem chuva e nuvens mas com sol intenso. É terrível quando cortam a electricidade sem avisar e muitos hosteis e casas apenas têm esta fonte energética como origem do ar um  pouco menos quente que circula nas suas casas! Enfim está para vir a chuva. Quanto a mim passeio-me por estas ruas tentanto evitar o esterco, os cães doentes, uma vaca descontrolada a correr pela rua fora e a levar tudo à frente, corridas contra os mais profundos cheiros e com a Lauren a meter-me com os miúdos e com todos os que vão sorrindo desconfiadamente para a lente da máquina fotográfica. É uma experiência tão rica esta.


A vida é assim por aqui.


Músculos e yoga.


Olhares que falam.


Puja.


Brincadeiras a mais que dois ...


Ganga river, sacred, want some water? Take picture! Sacred Ganga!!!

Em Varanasi encontra-se ainda uma simbiose encantadora entre a morte e a vida, o final e o principal, e que corresponde ao meio deste ciclo, decorre com toda a normalidade em torno da própria vida. Corpos casados e corpos cremados as duas fontes principais de energia que colocam esta cidade entre as mais espirituais do mundo. O ser humano conta a sua história ou as suas estórias, através de mitos, de deuses, de revelações e se analisarmos tudo isso é algo que até faz sentido na medida em que nos dá algo em que confiar, em que nos rever e alcançar. Desde que se saiba onde está o limite entre nós e o que os mitos são, penso que podemos retirar ideias e viver experimentando rodeados por estes mitos. Por o exemplo, os hindus e a forma como olham para o Ganges como a sua mãe, fonte eterna de vida, energia, amor e que tudo limpa e lava. Por isso se lavam eles e os seus pecados neste rio, por isso aqui se queimam ou afundam corpos de vidas terminadas. Tudo isto com toda a confiança de que ao se banharem nada os vai afectar pois o rio, tal como a sua mãe, apenas quer o melhor para os seus filhos e tomará conta deles, por isso são extremamente felizes enquanto o fazem e isso transparece em todo o seu ser. Reparem na moldura energética que este mito criou e que se vive nesta cidade. De outra forma isto era inexistente e seríamos apenas mais máquinas do que o que somos, mais lógicos e distantes de nós, dos nossos instintos, o Ganges seria apenas mais um rio como outro qualquer. Daqui podemos extrapolar que todos os rios são dadores de vida e de energia e como tal podemos ser felizes ao banhar-nos nas suas águas enquanto sentimos toda essa energia a envolver-nos e elevar-nos. Ao mesmo tempo temos de perceber quem somos nós no meio disto tudo e questionar todas estas crenças de forma a que onde quer que seja que coloquemos a nossa confiança, o façamos para algo que é nosso, que sentimos e vivemos como nosso. Desta forma a religião é um bem que não se quer, pois se somos sãos connosco próprios e vivemos a vida experimentando e crescendo interna como externamente, para que precisamos de seguir crenças que nos fazem criar barreiras e limites à exploração da vida? No entanto não vou deixar de beber esta energia que Varanasi cria em seu redor e se sente em cada passo, respiração, cheiros, vistas e sabores que cada pessoa coloca no mínimo gesto, na menor expressão para representar estes rituais de vida, morte e amor.

Banhos no ganges em família.

Banhos no ganges com amigos.

Orgulhosa avó.

Banhos no rio em comunidade.

A Índia tem um cheiro próprio, tem um ar próprio e nunca encontrei nada como aqui, como as estórias, mitos e pessoas que se vivem nesta terra e que nos fazem sonhar, viver e encontrar no meio do turbilhão de emoções e sentidos que nos assaltam.


Claro, as sempre presentes beldades indianas!