quinta-feira, 8 de março de 2012

Fantasias e fantasias!

Olá outra vez :)

Deve parecer que até levo isto dos blogues a sério para agora andar tão regularmente aqui a colocar entradas, mas na verdade tenho é algum tempo que uso para descansar e manter o blogue ativo (à segunda lá saiu bem). Ainda estou em Pequim em casa dos meus amigos que têm sido excepcionais e a quem tenho muito a agradecer, a Li e o Pedro. O Pierre, o meu amigo Canadiano, está cá também já há alguns dias que têm servido para descobrir a cidade e conversar sobre a China. Bastante interessante e enriquecedor!

O importante é relatar um pouco dos meus dois últimos dias! Estive na cidade proibida que é deveras e de facto gigante! Todavia não se nota a dimensão (mesmo tendo lá passado quase um dia) ao deambular pelas ruelas, muralhas vermelhas (que antes, há muuuuito tempo, foram roxas), palácios e pátios onde ainda se sentem os ecos de ordens imperiais e de concubinas a segredar nos recantos dos palácios enquanto os eunucos, em correrias, atarefados levavam éditos para estabelecer a ordem no país e povo. Após entrar e sermos observados pelo tio Mao, que parece o olho que tudo vê do Lord of the Rings, passamos por séries de portões e páteos onde os militares treinam seriamente para o recolher e erguer da bandeira. Timidamente um petiz olha por entre as grades e pensa talvez um dia estar ali, ou então está apenas espantado e absorvido pelos gritos, manobras e correrias tão particulares destes militares de fardas verdes e botas pretas que são uma sombra dos soldados imperiais de outras alturas todos emprumados em armaduras e alabardas, elmos com penas na ponta e expressões carrancudas e disciplinadas ganhas em anos de combates para manter a paz e ordem contra as rebeliões no império. Foi assim que também eu estava a observar atentamente os movimentos enquanto outro mundo tomava contornos. Um mundo onde entrei silenciosamente no palácio, rodeado de eunucos e dignitários estrangeiros ou apenas emissários que vinham em negócios na corte. Passei as pontes guardadas pelos dragões (símbolo do imperador) e fénix (símbolo da imperatriz) esculpidos em pedra e que do chão parecem vivos e com a luz se contorcem, dançam e por fim ganham vida impelindo-nos a seguir ou recuar consoante o nosso "negócio". Subitamente dei por mim na presença de uma corte com robes compridos de seda e coloridos. Vasos de porcelana e Jade por todo o lado. Chapéus compridos ou curtos, com tranças e enfeites diversos, um carnaval oriental sem par. Colunas vermelhas sustentam tectos de madeira coloridos com mil desenhos verdes e azuis sobre a vida imperial. Todos falam uma língua estranha, por todo o lado vejo caracteres estranhos. Estou perdido, começo a correr em desespero pois não sei onde estou e percorro palácios, escadarias, jardins com pedras que parecem corroídas pela erosão, árvores de bambu e ciprestes, tesouros em ouro e jade, mais pessoas e pessoas que me vêm e de repente estou a ser perseguido pelo exército imperial, o mesmo que estava tão pouco tempo antes apenas a praticar manobras. São implacáveis, não param, gritam em coro algo imperceptível, corro pelos corredores de pedra cinzenta no chão de onde se erguem altas paredes vermelhas em cujo o topo o céu é testemunha do que se passa na terra, estou cercado, não por pessoas ou por ideias, nem por pensamentos, mas por pedra, árvores, céu, descubro um portão, atravesso-o e dou por mim do lado de fora, contínuo a ser seguido, corro para o jardim em frente e subo até ao mais alto templo que vislumbro, os guardas ganham terreno, nas minhas costas Buda contempla a cidade proibida, não tenho saída. Que imagem etérea, que cores e que luz, tenho de fotografar antes de tentar uma evasão espetacular. Carrego no botão, os mecanismos da máquina inciam-se, tudo fica preto.

Quando volto a ver pelo obturador da máquina fotográfica, estende-se uma planície à minha frente empurrada por montanhas nas suas costas. Olho à minha volta, só vejo montanhas, não há mais exércitos ou perseguições, estou na muralha! A grande muralha da China, não sei o que pensar. Longa e contorcida como uma cobra que serpenteia pelas montanhas envolventes, com subidas e descidas íngremes com e sem degraus, torres de defesa e portões com fortes. Um sonho realizado, um império defendido á custa do sangue de milhões de trabalhadores, à custa de guerras e acordos infindáveis! Um império nasceu, ali perante os meus olhos, tudo fez sentido. À medida que percorro a muralha, que me sinto o único homem no mundo capaz de a defender, de defender a nossa terra, de defender a vida dos bárbaros, dos piratas, dos homens com más intenções, apercebi-me que por mais longo que seja o caminho, mais voltas que ele dê e mais protegidos que pensemos que estamos, mais temos de agir, mais temos de percorrer, pois a vida corre, como a muralha, para um fim, para um ponto onde o império termina, onde o sonho acaba e nasce a realidade. Onde o mundo é nosso e o sentimos e vivemos com o coração, mente, connosco e onde as decisões que tomamos são tudo o que conta para sermos felizes.

Estou em casa, cansado, vivo, cheio de aventuras, estou a criar e a ser feliz, quantos mais o podem afirmar também??? Os guardas e ecos do passado não de certeza, mas quem sabe ... tu?

6 comentários:

  1. pois.. eu! :)
    cansada, viva, cheia de aventuras (mais interiores que exteriores) a criar e a ser feliz! :)
    tenho "viajado" muito contigo. obrigada!
    Ana Rita

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  2. Olá Ana :D

    Obrigado pelas palavras é uma honra conseguir levar-te e a todos quanto me lêm por este mundo fora comigo e mostrar o que vou vivendo e sentindo :)

    Beijinhos e continua a viajar por ti, quem sabe descubras o segredo de viajar pelo mundo ;)

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  3. Ufa... ok.. minhas vontades primeiras agora depois de ler o texto são: correr, correr e correr.... :)

    A escrita, se é que é para comenta-la, me fez imaginar tudo.. como se estivesse a ler um livro, ou ver um filme! Não posso deixar de falar o clichê: lindas experiências Nuno!!!! :)

    E adorei a parte final... com a certeza que venha ganhando e também conseguindo cada vez mais realizar de que a felicidade reside aqui dentro mesmo... e inclusive em cada momento, encontro, diálogo e acontecimento do nosso dia-a-dia.... e inclusive aquele que parece ser somente mais um da nossa "rotina", pois é este, atrás do outro, atrás do outro que constrói o que somos ao longo da vida, e decide de que forma queremos sentirmo-nos no nosso viver diário!!!

    O seu "viver diário" deste ano, tb me inspira a imagina-los, e cada vez mais desejar ter tb um ano em que possa vivê-lo assim! :)

    Beijinhos!!!

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  4. Olá Nuno!
    Muito bem, grande texto! No final da viagem já podes publicar um livro sobre as tuas aventuras =)
    Grande imaginação aí no imperio chinês lol

    Força nisso continua e boas viagens!!
    Beijinhos =)

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    1. Oláa :)

      Imaginação sempre em alta quando posso :P Império Chinês também é fértil em estórias por isso facilita :) Obrigado pelas palavras, quando pegas na mochila e vens aqui ter a este lado do mundo??? Estás a ficar muito certinha tsc tsc eheheh Trás o Gouveia, o Pedro e o Amarante e fazemos uma re-edição do inter-rail desta vez versão Asiática, da última vez apenas pisamos um pouquinho da Ásia, agora podemos explorar isto todos juntos :)

      Beijinhos e tudo bom ;)

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