segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Incrível Índia

Namaskar!

Antes de continuar com as imagens da Índia venho só falar um pouco dos sentimentos e vivências que tenho sentido e tido na Índia.

Primeiro estive no casamento logo após a minha chegada aqui, depois fiquei-me pelo Norte a viver com uma família Sikh durante treze dias. Nestes treze dias viajei por aldeias e pessoas, vi como a miséria afecta profundamente os pobres e a pobreza afecta profundamente a grande maioria da população indiana e pude discutir com a Manjeet e o Mushtag sobre estes assuntos e outros sobre o mundo e a Índia. Percebi também um pouco mais do papel da religião e da política neste país constituído por países, se pegarmos no universo Star Wars ou Senhor dos Anéis, é como ter aqueles povos ou raças todas a viver no mesmo país e a terem de se entender. craaaazy!

No norte da Índia existem mais pessoas, pelo que parecem afirmar os números, que se traduzem numa população maioritariamente pobre e que muitas das vezes vive em condições miseráveis. Por vezes apenas no meio da rua, maioritariamente rodeados do esterco dos animais, dos próprios animais e de todo o lixo que se deita para as ruas, claro a juntar a isto as águas estagnadas e o constante cheiro de fezes e urina, misturado com ... lixo. Tudo junto dá uma água de colónia bastante típica e cria uma Índia deveras incrível! 

Obviamente nem todos são pobres, existe uma classe média em crescimento, devido ao desenvolvimento do país, e também a classe rica. Todavia, entre todas estas classes existem coisas em comum, por exemplo as barreiras religiosas e as barreiras culturais. As coisas funcionam sem dúvida, mas tudo com um preço caro para alguns. Sem dúvida que a Índia tem um pouco de tudo para crescer economicamente e até tem um mercado interno devido ao número elevado da população, mas este mercado não está aberto a todos e muitos vivem com ordenados muito baixos, pois se um não quiser fazer algo, existem pelo menos mais dez para o fazer, é comer ou calar independentemente de ordenado ou condições de trabalho, surge então a pobreza provocada pelo capitalismo. Também por isto as pessoas tendem a virar-se para a religião que de facto por aqui é muito útil para organizar e controlar as pessoas de forma a que as coisas se mantenham desta forma por mais algum tempo. A pobreza criada pela religião verifica-se em todos os chamados religiosos que pedem dinheiro e andam andrajosamente vestidos com roupas que contêm a reminiscência das cores que um dia tiveram. As pessoas são educadas a pedir e a mendigar desde crianças pois funciona, todos dão dinheiro e os turistas mais que os outros e é mais fácil que, por exemplo ... estudar. Por isso é comum andar de um lado para o outro, especialmente nos locais turísticos, rodeado de crianças, mulheres e homens andrajosos ou não, mutilados, (veteranos de guerra), enfim uma panóplia de gentes que torna difícil manter constantemente um sorriso na cara ou falar com todos, pois toda a gente, quase sem excepção vem falar connosco para pedir algo depois.

Esta é a incrível Índia que todos vamos encontrar sem excepção e pode parecer que estou a fazer um julgamento da parte negativa e estou, pois sinto que no Ocidente estamos a ser de certa forma enganados quando nos vendem ou apregoam a Índia como uma maravilha, pois não é ou se viermos apenas para ver isso então nunca vamos saber o que é a Índia a não ser apenas um amontoado de monumentos (em decadência muitos deles) magníficos. Tem monumentos muito bonitos sem dúvida e até proporciona momentos de relaxamento, seja numa praia paradisíaca seja num Ashram ou templo onde podemos meditar ou fazer yoga por alguns dias, a única coisa pela qual eles sobressaem é porque têm um mestre ou guro que na Europa não há e porque são Oasis no meio de tanta pobreza e caos.

A parte negra está descrita, quanto à parte positiva, os monumentos são espectaculares nalguns casos, mas não deixo de esboçar alguma decepção quando estou perante o Taj Mahal e não sinto muito mais a não ser que é deveras enorme. Os templos são na maioria obras de arte sem dúvida, os rituais polvilham com luz, cor, cheiros e som lindos, as florestas de coqueiros e bananeiros no sul e centro, com as praias a coroá-las são um contraste com os campos mais secos do Rajastão e os nevoeiros e caos do norte. As cubatas existem por todos os lados e lá vivem pessoas como na África que conheço. O acesso a água é no estado do Gujarat e do Rajastão mais complicado mas não é um problema nos outros estados cheios de água devido às monções. Mas o mais brilhante são de facto as mulheres e as raparigas indianas, diria mesmo que são o sol deste país devido à sua beleza e às cores vivas que usam nos seus saris, aos brincos, pulseiras e penteados cobertos de flores que se podem ver em qualquer estado, em qualquer cidade. Do Norte ao sul, quer estejam cobertas à estilo muçulmano, à estilo hindu, à estilo tamil, ou outro estilo qualquer, a cultura está latente nas "bindhis" (pintas vermelhas na testa), nos anéis nos pés ou mãos, nas pulseiras, nos olhos vivos que perscrutam do meio de um preto absoluto que cobre todo o corpo, nas pinturas de heena nas mãos, pés e braços, as cores das vestimentas, nos sorrisos ou forma como se escondem, enfim, vivem e sente-se a sua presença viva em redor de nós.

A hospitalidade aqui também existe e tenho-a vivido mas existe mais da parte de quem pode fornecê-la e não tanto de quem quer dá-la.

É o misto de tudo isto que cria a incrível Índia, pois uma coisa é certa, até agora em todas as minhas viagens pelo mundo (apercebi-me há cerca de dois dias que já estive em todos os continentes menos na Oceânia e Polo Sul e já vi os grandes oceanos da terra tendo-me banhado neles também), nunca estive num sítio onde as contradições, a diversidade e os sentidos fossem tão usados e forçados a estar presentes a todo o segundo como aqui. Por tudo isto penso que a Índia merece ser conotada como incrível!

3 comentários:

  1. Muito bem escrito, e acho que o ultimo paragrafo descreve na perfeição o que também tenho encontrado por aqui. Pelo que a minha opinião ainda é parcial.

    Só já não sinto a parte negativa. Para mim, o lixo, o cheiro ou as pessoas que querem algo de ti fazem parte duma unica realidade. Fazem parte do DNA indiano, ou seja não consigo ver como sendo negativo (não signifique que goste).

    Aliás, a India, tem uma capacidade extrordinária de ligar extremos numa mesma realidade, que acho só conseguem co-existir aqui.

    Um abraço

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    1. Viva!!! Concordo com os extremos estarem ligados numa mesma realidade e de facto e isso que aqui se vive. Estava a tentar alertar as pessoas que vir a India e viver e constatar esses extremos e e algo de que dificilmente se foge. Penso que a partir da primeira vez em que nos sujeitamos a este folclore de cores, cheiros, movimento, poluicao e tudo o mais ou nos habituamos e conseguimos contextualizar ou odiamos e queremos fugir dele, de qualquer das formas ele existe e temos de o enfrentar :)

      Estou mega feliz, ao final de quase quatro meses descobri o botao responder aqui :P ahahahah

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  2. Sim sem dúvida- Aqui ou te habituas ou vais mesmo querer fugir :) Mas agora que estou no norte, vejo como é diferente. Acho que aqui sinto mais separação de realidades do que senti no norte. E é mesmo estranho, depois de ter vindo do sul, chegar a uma cidade com tantos turistas...

    Aliás acabou por levantar uma grande duvida filosófica na minha viagem... Adoro os "cartões de visita"(tipo Taj Mahal, Kajuraho), mas preciso daqueles locais que não têm muitos turistas. Acho que vou ter de encontrar um equilibrio entre os dois e fazer escolhas bem difíceis :)

    E em falar nisso, quando chegas ao Rajastão?

    Um abraço e continuação de boa viagem

    P.S. lol, sem duvida um motivo para ficar feliz... eu tb apenas descobri há pouco tempo lol, mas infelizmente parece não funcionar no meu computador

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